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Um dos fatores importantes para a sobrevivência dos neonatos começa pelos cuidados preventivos nas burras durante a gestação. A gestação e lactação são fatores de risco, pois propiciam que as burras entrem em balanço energético negativo. É, pois, imprescindível uma dieta adequada, adaptada às exigências nutricionais e energéticas durante a gravidez, especialmente no último terço da gestação, afim de evitar doenças como a hiperlipemia. Esta doença, além de pôr em risco a saúde posterior da cria, também afeta negativamente a qualidade da produção de leite e do colostro, diminuindo a taxa de sobrevivência do burranco. A falta de cuidados preventivos, como programas de vacinação e desparasitação, e situações de stress durante a gravidez são também fatores que podem afetar negativamente todo o processo.
Sabendo que o período de gestação duma burra tem uma média de 365 a 376 dias, é importante termos mais atenção nos dias mais próximos à data prevista para o parto, vigiando o comportamento e apetite da mãe, bem como o desenvolvimento da glândula mamária. O aparecimento de um leite que transita de uma cor transparente para um cor branca indica a proximidade do parto, num intervalo menor a 48 horas.
Por vezes é necessário ajudar durante o parto, pelo que nesta fase é importante fazer um seguimento mais dedicado. Deve ser solicitada intervenção veterinária sempre que manobras manuais simples não sejam suficientes. A utilização de aparelhos vulgarmente utilizados noutros animais, como os puxadores de bezerros, é desaconselhada, pois há um grande risco de ferir gravemente a burra, quando o burranco não se encontra bem posicionado.
As primeiras 24 horas da vida do burranco são fundamentais para a sua sobrevivência.

Parto prematuro
Denomina-se parto prematuro quando a cria nasce antes da data prevista de gestação. Por outro lado, temos um parto dismaturo quando o desenvolvimento da cria é insuficiente, mesmo tendo cumprido o tempo completo de gestação. Em ambos os casos será preciso apoio veterinário. Estes burrancos são propensos a falhas na transferência passiva de imunidade e outros transtornos.
Ambas as situações caracterizam-se por burrancos de orelhas com baixo tónus muscular e que, quando em pé, ficam em posição lateral ou para trás, como sinal de fraqueza, dor ou depressão.

Aceitação da mãe e transferência passiva de imunidade (colostro)
Um dos cuidados a ter após o nascimento é perceber se houve boa aceitação da cria por parte da mãe. Ela deve interessar-se pelo recém-nascido, lambê-lo, insistir para que se levante e deixá-lo mamar.
É vital para o burranco assegurarmos que mama o colostro (primeiro leite da mãe) nas primeiras 2 a 4 horas de vida para haver uma boa transferência de imunidade entre mãe e cria, uma vez que o tipo de placenta das burras não permite a passagem de defesas, sendo estas unicamente transferidas pelo colostro. A capacidade de absorção de imunoglobulinas começa a diminuir rapidamente a partir das 3 primeiras horas, perdendo totalmente a capacidade de absorção às 24 horas de vida. A quantidade recomendada é de aproximadamente 250 ml a cada hora. Os recém-nascidos devem beber um total de 1 a 3 litros de colostro nas primeiras 12 horas após o parto.
No caso de a burra não ter colostro suficiente ou se este não for boa qualidade, ou de ter rejeitado a cria, devem procurar-se opções complementares, com a utilização de colostro congelado ou comercial, dado ao burranco num biberão.

Hipotermia
Os burrancos recém-nascidos são pouco tolerantes ao frio pois a sua capacidade de termorregulação é limitada, especialmente quando o nascimento acontece durante os meses mais frios ou quando o parto ocorre durante a noite. É importante ter uma curriça ou coberto para proteger a cria, sendo por vezes necessária a utilização de toalhas para secar e um cobrejão térmico para aquecer o burranco.

Retenção de mecónio
A expulsão do mecónio - primeiras fezes de cor castanho escuro esverdeado - deve acontecer nas primeiras 12 horas de vida do animal. No caso do burranco não defecar, deve ligar-se a um veterinário pedindo apoio, pois a sua retenção pode provocar cólicas no recém-nascido.

Desinfeção do umbigo e outros cuidados
O umbigo deve ser desinfetado nos primeiros dias de vida para evitar o desenvolvimento de uma onfalite (infeção do umbigo) que pode desencadear uma posterior septicemia (infeção grave e generalizada do organismo). Para isso, devemos fazer imersão do umbigo em solução de iodo a 2% (Betadine) duas vezes ao dia, durante 2-3 dias.
Também deve ser dada atenção particular a sinais como dificuldade em mamar, diarreias graves, dificuldade em urinar, problemas nas articulações ou membros, ruídos respiratórios exagerados ou qualquer indício que levante uma suspeita de que o animal possa ter alguma complicação.