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Visita a Ancas e o projeto O Burro - Património Cultural de Ancas

Foi com entusiasmo que, no início de Junho e Julho, a equipa de veterinária da AEPGA se deslocou até Ancas, concelho de Anadia, no seguimento de um contacto feito pelo Club de Ancas. O objetivo desta viagem, durante a qual foram avaliados 24 animais, foi prestar apoio veterinário aos vários burros e dar formação aos seus cuidadores sobre as suas necessidades em termos de maneio e cuidados básicos.
O Club de Ancas tem desenvolvido um projeto chamado “O Burro” - Património Cultural de Ancas, que visa salvaguardar o bem estar animal e promover o simbolismo do burro para a aldeia de Ancas. Ficámos curiosos e quisemos saber mais sobre este projeto!


AEPGA: Como surgiu a ideia do projeto “O Burro” - Património Cultural de Ancas, e em que é que este consiste?

Club de Ancas: Ancas é uma pequena aldeia bairradina do concelho de Anadia situada no coração da região vinhateira. Pelo menos até aos anos 70, o burro era um animal presente na comunidade sobretudo para uso de carroças e apoio a trabalhos agrícola, tendo vindo a diminuir ao logo das última décadas, quase tendo desaparecido da nossa região. Contudo, e de forma ininterrupta, pelo menos desde 1969 a aldeia de Ancas tem vindo a celebrar “O Burro” através da Tradicional Corrida realizada nos festejos da aldeia, sempre a 17 de agosto, reunindo milhares de visitantes, numa organização da Mordomia da Nª Sr.ª da Assunção. Tendo o Club de Ancas no seu projeto sociocultural preocupações quanto ao Desenvolvimento Local, à Sustentabilidade e a preservação do Património, desde 2004 tem vindo a preconizar iniciativas de promoção do “Burro” enquanto Património Cultural de Ancas, ajudando a salvaguardar o bem estar animal e a promover o simbolismo do “Burro” para a nossa aldeia.


AEPGA: Quais os principais objetivos que pretendem atingir?

Club de Ancas: O principal objetivo é o da preservação do Burro, a sua promoção e dignificação, não só enquanto património genético, mas também como importante património cultural da nossa aldeia e do território, agindo na prática com a realização de iniciativas de proteção do animal e do ambiente e ações de apoio ao criador e tratador – aliás o projeto em si nasce para criar condições de apoio e suporte ao criador, um conjunto de pessoas com partilham o gosto por este fantástico animal, hoje meramente usado como animal de estimação e para limpeza de terrenos. Como objetivos secundários ou complementares pretendemos dar apoio na organização da Tradicional Corrida de Burros e a integração do “Burro” nos diversos eventos do Club de Ancas, em particular o FOLK ANCAS-Anadia e o Magusto, criação de merchandising alusivo ao Burro, divulgação do “Burro” enquanto património cultural de Ancas, através do registo vídeo e fotográfico; bem como através da criação de murais (arte de rua), exposições e mostras de cinema, comemoração do Dia Internacional do Burro (8 de Maio) e a realização de Passeios com os Burros pela Aldeia de Ancas.


AEPGA: De que forma o Burro se relaciona com a vida e cultura de Ancas, no passado e no presente?

Club de Ancas: O “Burro” enquanto símbolo da nossa aldeia deve ser levado à prática. Se a memória dos mais velhos diz-nos que, antigamente, uma em cada duas casas da aldeia tinha um burro, enquanto animal de trabalho, atualmente queremos olhar para estes animais de uma forma positiva e contemporânea. Queremos que tudo seja mais que mero simbolismo e folclore. Queremos centrar-nos no bem-estar animal e no apoio ao criador. Quando promovemos passeios ou permitimos o contacto de crianças com os burros, queremos que toda a Comunidade (e sobretudo os mais jovens) compreendam a importância do bem-estar animal e com isso formar consciências quanto ao meio ambiente. Tal como o Lince se tornou um símbolo dos animais em vias de extinção, queremos que o "Burro” apele a valores da boa relação entre o Homem e o ambiente e na sua relação com os animais. Se o Burro teve um papel importante na vida da nossa aldeia, queremos mais que o simbolismo do animal (e a realização da Tradicional Corrida, que na verdade não passa da celebração do próprio animal) seja o mote para uma boa relação do Homem com o território. Exemplo disso é o projeto desenvolvido com o projeto “Brigada Florestal Animal” que pretende ser uma medida para ajudar a reduzir a presença de materiais inflamáveis em zonas próximas das povoações, criando zonas de segurança contra a propagação de incêndios e promover a limpeza de terrenos de forma sustentável (vamos lançar no mês de julho o projeto piloto em terrenos da Misericórdia de Anadia).


AEPGA: Na vossa perspetiva, qual é a importância e o impacto da visita dos veterinários da AEPGA?

Club de Ancas: A associação AEPGA é a fonte de inspiração para o projeto nos termos da valorização do Burro, do seu bem estar e do apoio ao criador. A associação é o projeto de referência, do qual ambicionávamos tornar-nos sócios e vir a conseguir quase que ser um pólo de trabalho. Há limitações de competências específicas nos serviços veterinários para este tipo de animais, os criadores – salvo raras excepções - muitas vezes negligenciam os cuidados veterinários, pelo que sem o apoio da AEPGA no campo veterinário e formação, dificilmente conseguiremos garantir que os Burros do nosso território tenham todos os cuidados necessários. O Club de Ancas tem promovido o mapeamento dos animais, chamando os criadores para o projeto – neste momento com 23 animais – e conta com a visita dos veterinários da AEPGA e ações de formação dos criadores para atingir os critérios definidos pela AEPGA. A importância deste apoio da AEPGA é tão grande que o grau de satisfação dos criadores é enorme e sobretudo o feedback que estes transmitem de que a relação com os seus burros melhorou em termos dos burros estarem mais dóceis e visivelmente saudáveis.



Ao Club de Ancas congratulamos a partilha do entusiasmo pelos burros e o seu empenho em promover este animal.