AEPGA

 

Cardo burriqueiro

Acanto-bastardo, anasarina, alcachofra burriqueira, cardo burriqueiro ou cardo asneiro - são muitos nomes para apelidar a mesma planta, um cardo gigante de flores púrpuras que cresce em terrenos incultos, bermas de caminho, valados e pastagens, em lugares normalmente inférteis e pedregosos. A sua adaptação aos climas secos é tal que em muitos países onde foi introduzido, como Austrália e Estados Unidos, se tornou uma planta invasora, difícil de erradicar. Em contrapartida, na Escócia é considerada a flor nacional: está representada no símbolo da polícia escocesa, na insígnia da seleção internacional de rugby e de vários clubes de futebol e consta nas divisas dos nobres símbolos heráldicos da nação.
Mas voltemos às designações comuns, com inequívocas alusões aos asininos. Acontece que estes cardos são um manjar para os burricos, que se deleitam com as suas flores e folhas, pouco se incomodando com os espinhos. O próprio nome científico, “Onopordum acanthium” , cunhado por Linnaeus, reflete a ligação. Na verdade, o género “Onopordum”, significa literalmente “peido de burro”, referência que tem origem na enciclopédia “Naturalis Historia”, escrita pelo naturalista romano Plínio, o Velho (23-79 a.C.), onde este afirma: “diz-se que os asininos, depois de comeram a planta “onopradon”, produzem gases”. É provável que isso aconteça pelo facto da planta conter esculina, uma saponina tóxica para pessoas e animais. Apesar disso, a planta tem várias propriedades, sendo tradicionalmente usada para cicatrizar feridas, curar úlceras na cara e em mezinhas para a tosse, sendo atualmente o seu extrato usado em tratamentos dermatológicos. Em algumas regiões, as flores e os talos mais tenros comem-se em saladas, tal como as tengarrinhas (uma outra espécie de cardo), de acordo com o ditado que diz “as de abril para mim, de maio para o meu amo, de junho para o meu burro”.
Deste género de grandes cardos há quatro espécies em Portugal, dois a sul de Portugal e dois mais a norte. Para além do O. acanthium temos o cardo-burriqueiro-elegante (Onopordum illyricum) que cresce nas encostas do Douro, viradas a norte. Esta espécie endémica ibérica é rara em Portugal, e está avaliada como Vulnerável pela Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental, pelo que a sua conservação é prioritária para garantir a sua sobrevivência.

Dado a preferência que os burros dão a estas plantas, pode pensar-se em usar estes animais para limpar áreas onde abundem os cardos, como se pode ver nesta curta filmagem: https://www.facebook.com/watch/?v=224536328887736