AEPGA

 

Lorenzo Barsotti

Após estudos em Literatura Clássica e uma primeira experiência de trabalho com o Centro Grotowski de Pontedera - Itália, Lorenzo Barsotti funda o Festival Sete Sóis Sete Luas, promovido por uma Rede Cultural de 30 cidades de 8 diferentes países.
Desde 1999, no âmbito deste festival, realiza projetos de música popular, de teatro de rua e de artes plásticas, com a participação de grandes figuras da cultura europeia e mediterrânica.
Foi diretor artístico do festival de teatro de rua Imaginarius (2001-2011).
Funda em 2008 o Centro de Criação para o Teatro e Artes de Rua (CCTAR), assumindo a sua direção artística.


Há 15 anos esteve no Planalto Mirandês, em Portugal, para produzir o projeto “Software + Hardware = Burros”. Tem ainda recordações dessa altura?
“Software + Hardware = Burros” é um dos projetos que mais gostei de fazer e do qual tenho as melhores recordações. Todas as pessoas foram autenticamente acolhedoras e disponíveis. A AEPGA, na altura ao início da sua atividade como associação, percebeu de imediato o projeto e deu um apoio indispensável.

Que impressões mais fortes tem do contacto que teve então com os habitantes locais?
Lembro-me com prazer de como as pessoas vinham com o próprio burro tirar a fotografia sem saber muito bem a razão e sem conhecer o Oliviero Toscani. Vinham pelo prazer de o fazer. Isso facilitou uma relação entre nós, caracterizada por uma grande espontaneidade, que favoreceu o ambiente de trabalho. Voltámos para casa com a sensação de ter tido o privilégio de trabalhar num ambiente natural e humano ainda preservado e autêntico.

Lembra-se de algum facto ou momento curioso que queira partilhar?
Não me lembro de nenhum facto específico. Todo o projeto foi, em alguma medida, bastante curioso. Desde o local escolhido para tirar as fotografias (a baliza de um campo de futebol), até às pessoas (disponíveis e orgulhosas do seu animal), à forma cordial e sincera como fomos recebidos.

Ao longo destes anos, tem tido algum feedback em relação à exposição?

A exposição viajou por diferentes países europeus e sempre foi recebida com entusiasmo e interesse por parte do público e da crítica. É certamente um dos projetos mais importantes que eu realizei e prestigia o portfolio do próprio Oliviero Toscani, que nunca perde a oportunidade para o citar.

Passaram 15 anos e, entretanto, o mundo mudou muito, estando a tecnologia ainda mais presente na vida de todos. Acha que continua a fazer sentido chamar à atenção para o mundo rural e uma vida mais perto da natureza?
Acho que faz ainda mais sentido. Nestes 15 anos as problemáticas ambientais tomaram proporções realmente dramáticas. Por isso uma vida mais perto da natureza e das suas exigências é cada vez mais importante. Natureza também no sentido de recuperar uma relação com nós próprios e com os outros, mais naturalmente humana, onde a tecnologia seja mero instrumento para melhorar a nossa humanidade.


(As imagens mostram a baliza de um campo de futebol e Oliviero Toscani com os burros que fotografou)