Notícias • Especialistas e organizações do ambiente juntam-se em Miranda do Douro para explorar o contexto e situação das árvores centenárias em Portugal
Especialistas e organizações do ambiente juntam-se em Miranda do Douro para explorar o contexto e situação das árvores centenárias em Portugal
Especialistas do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), academia e organizações ambientais alertam para o risco de perda de património natural por falta de apoio a proprietários e propõem que se impulsione a valorização das árvores nos centros urbanos da região.
O arvoredo centenário, parte da identidade do Nordeste Transmontano, esteve em foco no seminário “Árvores centenárias – herança a preservar”, promovido pela Associação para o Estudo e Protecção do Gado Asinino (AEPGA), em parceria com o Centro de Acolhimento do Burro (CAB) e a Junta de Freguesia de Miranda do Douro.
O seminário decorreu no dia 24 de outubro, em Miranda do Douro, e reuniu especialistas e membros de várias organizações para debater a importância, urgência de proteção e formas de valorização do arvoredo centenário. Mais do que alertas, surgiram propostas: apoiar quem preserva o património e inscrever as árvores notáveis no roteiro de quem visita esta região.
O tema central foi a urgência de olhar para o arvoredo centenário, como os freixos robustos, os castanheiros e as azinheiras, entre outras espécies, como um património vivo, tão essencial para a identidade local quanto a própria Língua Mirandesa e o gado autóctone.
Numa jornada de reflexão que juntou a AEPGA, a Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), a Quercus e académicos da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), o foco foi colocado na necessidade de respeitar e valorizar estes monumentos vivos.
Do encontro nasceu uma reflexão do contexto português das árvores centenárias e um conjunto de possíveis soluções que visam dar uma nova força a este património.
Miguel Portugal do ICNF, apresentou a legislação portuguesa de classificação do arvoredo de interesse público e municipal, contextualizada historicamente. Explicou que apesar do valor e benefícios das árvores centenárias tenderem a aumentar com o porte, há mais razões para as árvores serem consideradas de interesse, desde a sua idade, raridade, configuração e particular significado natural, histórico ou paisagístico. Recordando que todos podemos propor que uma árvore ou conjunto arbóreo seja classificado como de interesse público, reforçou o apelo aos cidadãos para que participem ativamente na conservação deste património comum, através da submissão de propostas de arvoredo que considerem notável através de formulário disponível no site do ICNF.
Paralelamente, Miguel Nóvoa da AEPGA sugeriu a criação de marcas próprias de produtos locais que atestem o respeito pela paisagem, garantindo um preço mais justo aos produtores. Por sua vez, iniciativas como a app "Passaporte Natura 2000" da Palombar, apresentada por Rui Dias, surgem como ferramentas para inscrever árvores centenárias nos roteiros de visita aos territórios abrangidos pela Rede Natura 2000, e promover o valor deste património. Foi ainda proposto alargar a valorização das árvores às aldeias, vilas e cidades, promovendo a utilização de espécies resilientes para melhorar o conforto climático.
Por sua vez, João Carvalho, professor da UTAD, mostrou a necessidade da educação e sensibilização para o tema, explicando como a falta de reconhecimento e de proteção efetiva das árvores monumentais, leva a ações prejudiciais como podas inadequadas, danos por obras e uso para fins inadequados. Além disso, partilhou vários exemplos de árvores notáveis com a plateia, tanto de Portugal como de outros locais do mundo. Para uma árvore ser considerada monumental tem de possuir alguns atributos, seja a sua raridade, idade, dimensões, ou o seu valor histórico ou ecológico. Numa fórmula criada especificamente para este efeito, é possível calcular o valor monetário de cada árvore.
O Convite à Participação
O seminário culminou com um reforço da importância da parceria entre ICNF, academia e ONG na inventariação e monitorização, mas o apelo mais direto foi direcionado aos cidadãos. Incentivou-se a população a assumir um papel ativo na conservação deste património.
A tarde terminou sob a sombra fresca da azinheira tricentenária da aldeia da Póvoa, local que serviu de palco à apresentação do Projeto “SaveOxycedrus - Situação Atual e Perspectivas Futuras em Torno do Zimbro-oxicedro” por João Carvalho da UTAD e Pedro Sousa da Quercus. Este momento reforçou a ideia de que a preservação da paisagem é um compromisso que exige o empenho de todos.
Este evento contou também com o apoio do Município de Miranda do Douro e CCDR-Norte.





























