Curiosidades • Software + Hardware = Burros
Software + Hardware = Burros
Decorria o ano de 2005 quando os Burros de Miranda invadiram o Castelo de S. Jorge, em Lisboa, dando a conhecer aos locais e aos turistas a beleza destes animais. Pela primeira vez, muitos tomaram conhecimento desta raça, vendo-os fotografados em 50 painéis de grande formato (3 x 2 metros), que ora davam um destaque solitário aos bichos de olhos mansos, ora os mostravam cobertos por belos alforges ao lado dos seus donos, em imagens que evidenciavam vários elementos da cultura mirandesa.
A exposição, intitulada “Software + Hardware = Burros”, foi concebida e realizada por Oliviero Toscani, até ali conhecido sobretudo pelas suas polémicas campanhas realizadas para a Benetton. À data afastado da marca, o fotógrafo italiano pretendeu com este projeto alertar, em simultâneo, para o perigo de extinção desta raça e para a obsessão tecnológica que torna a humanidade preguiçosa.
Oliviero Toscani foi convidado à trabalhar em Trás-os-Montes por Lorenzo Barsotti, diretor do Centro de Criação para o Teatro e as Artes de Rua. Então Toscani recordou-se de uma viagem anterior a Portugal, logo após abril de 1974, e das lembranças das estradas onde encontrava burros guiados por mulheres de vestidas de negro. Cansado de fotografar “top models”, pensou que seria bem mais interessante mostrar os burros como se de modelos se tratassem.
Com o apoio da AEPGA, Oliviero Toscani passou então cinco dias no Planalto Mirandês, fotografando intensamente nas aldeias de Malhadas, Póvoa, Ifanes e Paradela. Alguns desses burros estavam ao cuidado da AEPGA, como o Outeiro, que foi um excelente macho reprodutor e pai de muitos burrancos do Planalto; o Lorenzo, nome dado em agradecimento ao produtor da exposição, Lorenzo Barsotti, e que ainda hoje é um dos animais mais fiéis do CVBM ; e nosso pachorrento Tó, cuja imagem foi posteriormente utilizada pela editora Cotovia para ilustrar a sua edição de “Platero e eu”.
Desses tempos, recordamos com carinho a dona Adelina Neto, o senhor Francisco “Ceteiro”, a dona Aurora, a dona Iria e tantos outros que foram, no início do Livro Genealógico (criado em 2003), a alma e a força da raça asinina de Miranda – os verdadeiros “hardware” da missão.
Depois de ter estado patente durante dois meses em Lisboa, a exposição foi apresentada em várias cidades, de norte a sul do país, e também em Dublin, Bratislava e Milão.