Curiosidades • Vindima no Planalto Mirandês
Vindima no Planalto Mirandês
Os franceses, mestres na arte de fazer vinho, dizem que a poda foi inventada por uma cabra. No entanto, os camponeses do Planalto Mirandês – onde a antiguidade da cultura da vinha é atestadas pelas rústicas “villae” romanas do nordeste transmontano – discordam da afirmação, dizendo antes que “la poda fui ambentada por un burro”.
Rivalidades animais à parte, o certo é que se a poda sempre foi tarefa normalmente reservada aos homens, no Planalto Mirandês a mobilização da terra era feita recorrendo a asininos e muares. Mercê de um solo pobre e de um clima agreste, aqui as vinhas raramente ultrapassam os 30 cm de altura. Segundo Carlos Ferreira, presidente da Assembleia Municipal de Miranda do Douro, até meados dos anos 70, os asininos eram essenciais para os trabalhos anuais, que começavam em março, precisamente com a poda, chamada de cabeça de gato ou de salgueiro por ser muito curta. A seguir eram lavradas com uma charrua e estrumadas, depois de retirada alguma terra à volta da cepa para deixar entrar o calor. Em maio voltava a haver nova lavra, desta vez com um arado puxado por um só animal, normalmente uma mula, após o que se “acunchegavam” os pés das vinhas para manter a humidade. As vindimas faziam-se a partir do final de setembro, prolongando-se outubro dentro. Aí os asininos e muares voltavam a ser requisitados para transportarem os cestos feitos em verga, aqui chamados de “asnales”, carregados com cachos de uvas conforme a resistência dos animais.
Veja o vídeo de uma vindima tradicional, reencenada em 2012, na aldeia de Sendim (Miranda do Douro):
https://www.youtube.com/watch?time_continue=152&v=ACVMI2uHdt8&feature=emb_logo
As fotos, da autoria de ©Cláudia Costa, foram captadas em Palaçoulo (Miranda do Douro)