
Burro de Miranda • Elementos característicos • Características genéticas
Bem individualizada da restante população asinina, pelas suas particularidades morfofuncionais, a raça asinina de Miranda, distingue-se das demais por características ligadas à pelagem, comprimento do pelo, conformação, beleza, tamanho, função, comportamento e origem (Planalto Mirandês). Às características de excecional rusticidade, sobriedade, longevidade e polivalência que caracterizam os asininos, a Raça Asinina de Miranda acrescenta ainda força e docilidade. Bem-adaptada às condições edafoclimáticas de uma região desfavorecida, possui elevada capacidade para valorizar forragens pobres e grande resistência à escassez hídrica. Apesar da sua precocidade sexual, as fêmeas devem iniciar a sua vida reprodutiva apenas a partir dos três anos e os machos um ano mais tarde. A capacidade reprodutiva das fêmeas tem tendência a diminuir a partir dos 15 anos de idade, ou até antes em burras não prenhes regularmente, pelo que é importante iniciar a vida reprodutiva cedo e obter gestações regulares para manter a reposição dos animais ou mesmo aumentar a população. O intervalo intergeracional alto e a não negligenciável mortalidade no primeiro ano de vida permitem concluir que, no sentido de repor a população activa, uma burra terá que ter pelo menos 6 partos no decorrer da sua vida.
O cio tem a duração aproximada de 6 dias, variando entre os 2 e 8 dias, e uma ciclicidade de 17 a 30 dias, sendo o intervalo interovulatório médio de 24 dias. O período de cobrições mais frequente estende-se de abril a junho, com uma média da gestação de 12 meses, podendo variar entre 11,5 e 13 meses.
A variabilidade do ciclo reprodutivo, a elevada taxa de gestações gemelares, sempre perigosas, e a complexidade do corte típico da espécie obrigam a um acompanhamento reprodutivo muito intensivo, no sentido de se obter taxas mais elevadas de reprodução, e assegurar o bem-estar dos animais. Os partos são geralmente fáceis, mas a necessidade de consumo de colostro precoce e uma certa fragilidade dos burrancos recém-nascidos fazem com que a taxa de mortalidade antes do primeiro ano de idade seja demasiado elevada. A implementação de medidas como a monotorização cuidada do peri-parto, a suplementação das mães com nutrientes limitantes na zona geográfica, nomeadamente vitamina E e Selénio, a sua vacinação e desparasitação atempada, são fundamentais para obter bons resultados reprodutivos.
Muitas das fêmeas apresentam problemas reprodutivos, principalmente por idade avançada, aliada a alguma resistência dos seus proprietários em reproduzirem-nas, devido aos custos inerentes em termos de trabalho. As dificuldades ao nível da multiplicação do efetivo atual surgem, também, pela falta de machos inteiros adultos disponíveis, uma vez que a maioria dos machos são castrados quando atingem 1 ano de idade, de forma a facilitar o maneio e a sua exigente manutenção. Daí resulta que nem todas as fêmeas reprodutoras têm acesso fácil ao burro reprodutor. Esta limitação reforça a importância da utilização de técnicas de reprodução assistida.
Apesar dos estudos que têm vindo a ser desenvolvidos na área da reprodução, na raça asinina de Miranda esta faz-se, atualmente, apenas com recurso à monta natural ou a sémen fresco, o que implica a aplicação do sémen num curto espaço de tempo após a recolha, e, portanto, numa área geográfica limitada. A aplicação de técnicas de reprodução assistida mais avançadas, como refrigeração e congelamento de sémen ou mesmo a transferência embrionária, ainda apresentam limitações técnicas, mas principalmente constrangimentos económicos, que podem pôr em causa, a médio prazo, a viabilidade da Raça Asinina de Miranda.